O Comércio, o Leão e o Antílope |
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15-Out-2009 | |
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Outro dia estava em uma dessas padarias renomadas que vendem de tudo e às vezes não fazem pão. Não é o caso desta que quase toda hora tem pães quentinhos. Comprei o pão. Pedi um pote com “sardella” e mais alguma coisa e fui ao outro balcão onde havia dezenas de tipos de salgadinhos. Eram três ou quatro atendentes, uma família sendo atendida e eu no balcão. Olhei e perguntei a uma das moças se só haviam aquelas “coxinhas”. Havia só quatro no compartimento e estavam bem feias. A atendente me olhou virou as costas e desapareceu. As outras, menos uma que atendia à família que lá estava, ficaram observando e eu plantado feito um bobo. Alguns segundos depois, (ou foram minutos?), fui ao caixa pagar a conta, com raiva, pois queria levar uns salgados para casa. Descarreguei a raiva no caixa falei da má vontade da atendente e ele mudo ouviu, deu o troco e a nota fiscal para retirada da mercadoria adquirida. No meio do caminho (alguns passos depois) encontrei um dos sócios da padaria. Eu o conheço e agora menos revoltado, expliquei o caso, lembro que até comentei que eles estariam perdendo vendas, pois além das coxinhas eu queria outros salgados. A moça além de me responder, poderia ter perguntado se eu queria algo mais: Sabem aquele solene, posso lhe ajudar, deseja algo mais. Mais que depressa ele foi ao balcão perguntou o que acontecera e voltou dando a informação que a moça fora buscar coxinhas na cozinha e que ela já estava trazendo-as e aí pediu desculpas, ofereceu café, água, solicitou que esperasse um pouco. Mas ainda havia um resquício de raiva em mim. Não, eu já paguei e tenho um compromisso. Não se preocupe, eu só informei para que esse problema fosse sanado e achei que você deveria saber. E hoje, em meus pensamentos: Não mais voltei lá, será que houve alguma mudança? A maior parte dos proprietários de comércio e serviço que utilizam mão-de-obra tem alguma dificuldade com seus colaboradores. As reclamações são de ambos os lados. Não há boa vontade, não há interesse, não há qualificação e também há desinformação entre as partes. O que ocorre é um desrespeito mútuo e ainda pior, não há cidadania, o cliente não é bem atendido e nenhum deles mantém fidelidade. O colaborador não está nem aí com a empresa e com os clientes. A empresa por sua vez limita-se ao que a lei manda em relação aos seus funcionários. Ao fim e ao cabo, cada um se satisfaz com aquilo que lhe parece significar sua sobrevivência sem necessidade arriscar-se. Ao empreendedor bastaria passar o que se quer que seja feito e acompanhar e orientar e premiar. O prêmio e a orientação servem de exemplo e você acaba escolhendo os melhores colaboradores. Tendo mais confiança neles passam a estar mais presentes e responsáveis. Ou seja, faz-se necessário criar constante movimento, enfim, fazer algo. Então veio em minha mente este provérbio africano: “Todos os dias de manhã, na África, o antílope desperta. Ele sabe que terá de correr mais rápido que o mais rápido dos leões, para não ser morto. Todos os dias, pela manhã, desperta o leão. Ele sabe que terá de correr mais rápido que o antílope mais lento, para não morrer de fome. Não interessa que bicho você é, se leão ou antílope. Quando amanhece, é melhor começar a correr”. O recado: Se você pretende sobreviver, desperte. Já está amanhecendo. Comece a correr.
(*) Antonio Vico Mañas é professor titular da FEA-PUCSP; consultor empresarial; membro do Conselho Deliberativo da Associação Comercial de São Paulo e Conselheiro Nato da Distrital Mooca; Diretor do GT de Comércio do Fórum de Desenvolvimento da Zona Leste; autor de diversos livros. |
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